
Larissa Noé
Assim como a primeira mulher, conectada ao sagrado pelas linhas de seu corpo e à natureza pelo elo da criação, a artista se apresenta como matéria prima para conciliação entre o mito e o mundo através da exploração da autoimagem, em poéticas que demonstram a potência do feminino destituído de apropriações erotizadas.
Entendendo a fotografia como ferramenta capaz de captar o registro do próprio olhar sobre o próprio corpo, Larissa expõe elementos que estavam diluídos em seu imaginário através do acolhimento da timidez, da fragilidade, da delicadeza e da sensibilidade, estabelecendo paralelos entre elementos naturais e as formas do seu corpo. Tais paralelos criam um diálogo sutil entre as possibilidades do corpo e das folhas e plantas como potencialidades estéticas, buscando, em suas formas naturais, a simbologia para expressar a força da feminilidade.
Nesse sentido, o processo de libertação de Lilith foi adornado pela delicadeza e plasticidade do corpo que se disponibiliza como suporte para criação artística. Desse modo, o ser natural encontra o ser sensível na exploração das texturas, das formas e dos gestos atraídos pelas linhas em comum de suas identidades.
Assim, a proximidade com o sagrado é reconquistada na medida em que a essência da existência germina no colo feminino, verdadeiro repouso da origem da vida; lugar de onde emana a potência de uma existência que não aceita qualquer fim que não seja escolhido pela própria vontade.
- Fragmento do texto curatorial escrito por Frederico Lopes.